Guillain-Barré News
terça-feira, 16 de junho de 2020
segunda-feira, 15 de junho de 2020
Entrevista com filho de
uma paciente recuperada da Síndrome de Guillain Barré: apontamentos da doença,
recuperação, tratamento e desafios.
Por
Felipe Leandro Silva
Aluno
do Curso de Enfermagem - UNIARAXÁ
Araxá,
15/05/2020 (Via Aplicativo Meet Gogle) 20h 30.
No site do Ministério da Saúde
há a descrição do que é a síndrome de Guillain Barré, seus principais sintomas,
possíveis causas e tratamento da doença, como segue nesta entrevista.
A síndrome de Guillain Barré é um
distúrbio autoimune, ou seja, sistema imunológico do próprio corpo ataca parte
do sistema nervoso, que são os nervos que conectam o cérebro com outras partes
do corpo. É geralmente provocado por um processo infeccioso anterior e
manifesta fraqueza muscular, com redução ou ausência de reflexos. Várias
infecções têm sido associadas à Síndrome de Guillain Barré, sendo a infecção
por Campylobacter, que causa diarreia, a mais comum.
A incidência anual é de 1-4
casos por 100.000 habitantes e pico entre 20 e 40 anos de idade.
A
maioria dos pacientes percebe inicialmente a doença pela sensação de dormência
ou queimação nas extremidades membros inferiores (pés e pernas) e, em seguida,
superiores (mãos e braços). Dor neuropática lombar (nervos, medula da coluna ou
no cérebro) ou nas pernas pode ser vista em pelo menos 50% dos casos. Fraqueza
progressiva é o sinal mais perceptível ao paciente, ocorrendo geralmente nesta
ordem: membros inferiores, braços, tronco, cabeça e pescoço. Os sintomas
principais da Síndrome de Guillain Barré são fraqueza muscular ascendente:
começam pelas pernas, podendo, em seguida, progredir ou afetar o tronco, braços
e face, com redução ou ausência de reflexos. A síndrome pode apresentar
diferentes graus de agressividade, provocando leve fraqueza muscular em alguns
pacientes ou casos de paralisia total dos quatro membros.
O
Sistema Único de Saúde (SUS) dispõe de tratamento para a síndrome de Guillain
Barré, incluindo procedimentos, diagnósticos clínicos, de reabilitação e
medicamentos. A Guillain Barré é uma doença rara e não é de notificação
compulsória. O Brasil conta hoje com 136 Centros Especializados em
Reabilitação, que atendem pacientes com a Síndrome de Guillain Barré pela rede
pública de saúde. O SUS dispõe de Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas
para a Síndrome de Guillain Barré, que prevê entre outros tratamentos, a
disponibilidade do medicamento imunoglobulina intravenosa (IgIV) e do
procedimento plasmaférese, que é uma técnica de transfusão que permite retirar
plasma sanguíneo de um doador ou de um doente. O médico é o profissional
responsável por indicar o melhor tratamento para o paciente, conforme cada
caso. Não há necessidade de tratamento de manutenção fora da fase aguda da
doença.
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Fonte: https://saude.gov.br/saude-de-a-z/guillain-barre
Nesta
entrevista aos alunos do curso de Enfermagem o filho de uma paciente aborda
temas ligados à síndrome de Guillain Barré (SGB), características inerentes da doença, recuperação, tratamento e os desafios
passados pela família e pela paciente. As identidades serão preservadas a fim
de garantir a intimidade e privacidade de ambos, a paciente é do sexo feminino,
com idade entre 65 -70 anos. O entrevistado é filho da paciente e acompanhou de
perto todo o processo.
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-Como era a saúde, os
hábitos alimentares, de vida da paciente antes da doença?
Minha mãe é vegetariana há 40
anos, mas sempre fez a substituição de proteínas por outras fontes alimentares.
Sua alimentação sempre foi muito saudável, não gosta de comer fora de casa e
nem comer comidas muito processadas. Não pratica nenhum esporte, mas sempre
caminhou muito. Não se queixava de nenhuma comorbidade, mas também nunca gostou
de realizar exames e consultas preventivas. Fazia anos que não procurava
médicos e etc.
-Quais doenças ela já havia
tido em sua vida?
Nenhuma doença grave ou
cirurgias. Brincamos com ela que a última vez que ela foi ao médico, foi quando
teve o nascimento do filho caçula. (Risos)
-Como se manifestou a
doença?
Minha mãe estava em visita ao
meu irmão, no estado de Santa Catarina. Numa certa noite sentiu um certo
desconforto nas pernas, como um formigamento, mas não achou nada estranho.
Durante a noite levantou-se para ir ao banheiro e notou certa dificuldade em se
levantar do vaso sanitário, como que uma fraqueza em suas pernas. Porém
conseguiu levantar e voltou a dormir. No dia seguinte levantou e num certo
momento em que foi ao quintal da casa não conseguiu subir a escada de volta a
residência, não teve forças para conduzir a perna a altura dos degraus, ficando
escorada na parede, logo meu irmão notou a situação e prontamente a socorreu.
Ao perguntar o que ela sentia, ela dizia não sentir as pernas.
-Foi atendida prontamente?
Após meu irmão socorrê-la,
levou-a imediatamente ao Pronto Socorro. Ao passar pela triagem, os
profissionais suspeitaram de um possível AVC, ou de uma esclerose lateral
amiotrófica. Decidiram então encaminhá-la para um hospital onde teria mais
condições de realização de exames e diagnóstico do quadro.
-Quais sintomas ela teve?
Visto que segundo alguns artigos a doença costuma se manifestar até 2-3 semanas
antes, seja com uma virose, alguma infecção, gastroenterite e até outras causas
podem ser associadas, como pós cirurgias, traumas, vacinas, linfomas e até zica
vírus.
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Toda a
equipe do hospital investigou as possíveis causas, fizeram um extenso
levantamento com minha mãe. A única situação atípica relatada por ela foi que 2
a 3 semanas antes do ocorrido, ela relatou ter comido comidas diferentes do
habitual em uma saída no estado em que estava visitando e lhe ocorreu um forte episódio de diarreia.
Ela não havia vacinado, feito cirurgia, não havia tido zica vírus, a única
possível causa do desencadeamento é este episódio de diarreia aguda relatado
por ela.
-A paciente precisou ser
intubada e fazer o uso de ventilação mecânica? Tendo em vista que um dos
principais complicadores da doença é a insuficiência respiratória.
Não. Minha mãe não precisou ser intubada,
não houve comprometimento da respiração, ela permaneceu lúcida durante todo o
processo. Foram oferecidos várias vezes pelos médicos, medicamentos que
ajudassem a acalmar, dormir, ansiolíticos, pois o quadro é muito angustiante,
gera uma ansiedade enorme, a pessoa vê-se paralisando rapidamente e sem
conseguir conter a evolução da doença, mas ela recusou todas as vezes em que os
ansiolíticos foram oferecidos, optando por passar atenta, lúcida e ativa todos
os momentos.
-Qual caminho até o
diagnóstico?
Nos dois primeiros dias em que
ela se encontrava no hospital e sendo levantado os diagnósticos, a evolução da
doença foi muito rápida, ela chega ao hospital sem conseguir andar, logo em
seguida perde os movimentos dos braços, mãos e tronco. Com esta evolução, já no
segundo dia foram realizados exames, tendo como principal suspeita
a (SGB), em um desses exames que se chama método LCR que é a coleta do
líquido cefalorraquidiano, constataram que havia alterações, foi detectado, mas
precisaria de um segundo exame para confirmação do diagnóstico, que é o exame
de eletroneuromiografia, onde o hospital não realizava , teria que ser em algum
lugar externo. Foi solicitado a realização deste segundo exame de imagem e já
no terceiro dia a equipe entrou com o
protocolo de SGB.
-Vocês já conheciam ou
tinham ouvido falar da SGB?
Nunca tínhamos ouvido falar
desta doença, quando a equipe médica nos contatou e disse da doença, nós só
queríamos pesquisar, ver as taxas de mortalidade, de recuperação, tratamentos e
etc. Foi muito assustador receber a notícia de uma doença até então totalmente
desconhecida.
-Qual medicamento
utilizaram?
Já no quarto dia com o LCR e
eletroneuromiografia feitos aguardando apenas o resultado do segundo, os
médicos decidiram entrar com o medicamento imunoglobulina humana, que é o
principal e praticamente único medicamento para tratamento da doença. Um
medicamento raro de alto custo, fornecido e administrado apenas pelo SUS em
nosso país, de aquisição restrita a hospitais.
No hospital não havia o
medicamento, nem na cidade. A família precisou deslocar até outra cidade do
mesmo estado para conseguir acesso ao medicamento, conseguimos, após chegada deste medicamento no hospital
uma equipe específica e responsável avaliou o caso, exames e o quadro da minha
mãe, em seguida houve uma demora para conseguir um leito de UTI no próprio
hospital pois o medicamento só pode ser administrado neste local. No fim do dia
isso se resolveu, conseguiram um leito de UTI e o medicamento começou a ser administrado em
minha mãe. Que agora já sentia dificuldades no movimento dos olhos. No terceiro
dia já na UTI e fazendo o uso da imunoglobulina recebemos o laudo da
eletroneuromiografia que constatou de fato a SGB.
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- Como a paciente evoluiu?
Ficou sedada?
Até o quarto dia a evolução foi
muito rápida, pernas, braços, mãos, tronco e olhos paralisados. Após a
administração do medicamento não houve nenhuma melhora, mas também não piorou o
quadro, visto que a doença pode acometer o sistema respiratório e levar a uma
insuficiência deste sistema,
necessitando assim de ventilação
mecânica e intubação imediata. Somente após uma semana sendo administrado a
imunoglobulina o quadro foi estabilizado, ela recebeu alta da UTI, foi para o
quarto, recebendo a todo instante muita fisioterapia na cama pelos
profissionais. Já no quarto ela começou a movimentar bem lentamente as mãos e
dedos, o que foi evoluindo para movimentar os braços, tronco e os olhos. Após
isto, ela permaneceu mais uma semana no quarto do hospital internada até
receber a alta. Recebeu alta sem andar, não conseguia movimentar as pernas
totalmente.
-Fazendo um retrospecto de
tempo entre a fase de avanço da doença, da internação até a alta e da cama até
hoje, quanto tempo em cada fase?
04 dias até o fechamento
completo do diagnóstico;
06 dias na UTI e com uso da
imunoglobulina;
06 dias no quarto após alta da
UTI;
04 meses na cama até começar a
dar os primeiros passos.
-Tudo isto que passaram foi
através do SUS? Se sim, quais pontos poderiam ser melhorados para a melhor
eficiência no tratamento?
Sim. Foi através do SUS, fomos
muito bem atendidos, a equipe de saúde muito competente, foi rápido o
diagnóstico, tratamento e nos deram todo apoio. Porém tivemos oportunidade de
ver o que funciona e o que precisa mudar pra ontem, no SUS. A burocracia para
se conseguir o medicamento, a logística que há no sistema são muito falhos, o
ponto pior que encontramos de dificuldade foi a falha na comunicação, nossa
família precisou se unir e fazer muito pra que o medicamento chegasse até minha
mãe no quarto dia, pois se dependêssemos do processo logístico do SUS não
saberíamos
quando e se daria tempo do
medicamento chegar até ela. Lembrando que saúde não espera, cada minuto perdido
muitas vezes pode ser mortal para o paciente. Foi uma novela, o quarto dia da
doença de minha mãe durou cerca de 02 anos em termos de acontecimentos (risos).
Após a chegada do medicamento, fomos surpreendidos que ele poderia ser
administrado após avaliação de uma equipe específica de médicos responsáveis
por avaliar a administração desses medicamentos, além de precisar de uma vaga
na UTI, foi muito difícil, frustrante, angustiante esses momentos e com minha mãe
no leito paralisando, tivemos a sensação de perdê-la diante de uma impotência
enorme. Mas no fim tudo fluiu, após muita intervenção da família junto ao
hospital, o medicamento foi administrado e etc.
-Como a paciente está hoje?
Quais sequelas ficaram? Quais acompanhamentos ela faz e medicamentos que
utiliza?
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Ela
está recuperada da doença, faz acompanhamento com dois neurlogistas, muita
fisioterapia, fez acompanhamento em um hospital da rede Sarah que são
especialistas em recuperação de doenças raras o que ajudou muito em sua
recuperação. O único medicamento que ela utiliza até hoje é a reposição de
vitamina D. A sequela que ela possui é a dificuldade de andar, ela anda, mas
com dificuldades, não é a mesma capacidade que tinha antes da doença. A capacidade
de força e sustentação dos membros também diminuíram muito, mas ela segue muito
bem e recuperada. Foi um longo caminho, muitos meses na cadeira de roda, na
cama, mas ela é muito dedicada, focada, persistente e determinada. O que ajudou
muito, em momento nenhum ela desistiu, teve paciência e fez o seu melhor.
A imunoglobulina foi o medicamento utilizado somente na fase aguda da doença
durante sua estadia por uma semana na UTI, como recomenda o protocolo da
doença.
-Devido a SGB, houve mais
outras manifestações de doenças na paciente?
Não houve. Somente as sequelas
da doença.
-Como a paciente lida com a
doença? Ela sabe e conversa sobre o que lhe aconteceu ?
Ela lida muito bem, passado a
fase hospitalar ela quis voltar pra sua cidade, foi muito disciplinada,
superpersistente nos tratamentos oferecidos e frequente às sessões de
fisioterapia. Ela fala muito sobre como é passar pela doença, conheceu muitas
pessoas que passaram pelo mesmo e tiveram sequelas maiores, participa de grupos
de whatsapp com pessoas, familiares que também passaram pela SGB, visitou
pessoas e famílias que estavam passando pela doença. Está bem ativa, disposta e muito animada. Ela
superou a doença no corpo e no psicológico.
-Qual a mensagem você
deixaria aos profissionais de saúde, as famílias e pacientes que estão passando
por isto, ou que poderão passar, visto que ninguém está imune e não existem
medidas para uma completa imunidade a esta doença pouco falada e conhecida, mas
presente em nosso meio.
Aos familiares, pacientes que passam pela SGB ou que passarão um dia, digo que precisam de muita paciência, que sejam mais pacientes que o próprio paciente, que acreditem na recuperação, nos tratamentos, não meçam esforços para seguir firmes e que sejam tão fortes quanto ao paciente que passa pela doença e lembre-se que o apoio da família, dos amigos são fundamentais. Aos profissionais de saúde deixo a mensagem que tratem muito bem todos os pacientes independente da doença que estejam passando, que sejam zelosos, cuidadosos, atenciosos e carinhosos com a dor do outro, que possam ter amor por cada paciente que lhes cruzarem a rotina. E desejo de verdade que possam ser mais bem valorizados, principalmente a enfermagem, pois os médicos diagnosticam a doença, mas é a enfermagem quem cuida, quem exerce o tratamento direto ao paciente, todos eles possuem uma responsabilidade enorme nas mãos e às vezes com uma valorização não equivalente em nosso país. É isso!
terça-feira, 9 de junho de 2020
Epidemiologia de Guillain-Barré
Epidemiologia de Guillain-Barré
segunda-feira, 8 de junho de 2020
O QUE CAUSA A SGB?
Várias infecções tem sido
associados a síndrome de Guillain-Barré, sendo a infecção por Campylobacter,
que causa a diarreia, a mais comum. Outras infecções encontradas na literatura
cientifica que podem desencadear essa doença. Incluem: zika, dengue, chikungunya,
citomegalovírus, vírus Epstein-Barr, sarampo, pneumonia, hepatite a, b, c, Hiv,
entre outros.
Muitos vírus e bactérias já
foram associados com o desenvolvimento da síndrome de SGB, embora seja difícil
comprovar a verdadeira causa da doença. O diagnóstico é dado por meio da
análise do liquido cefalorraquidiano (liquor) e exame eletrofisiológico.
SINTOMAS DA SÍNDROME DE
GUILLAIN-BARRÉ
- Perda de reflexos em braços e pernas;
- Hipotensão
ou baixo controle da pressão arterial;
- Em casos
brandos, pode haver fraqueza em vez de paralisia;
- Pode
começar nos braços e nas pernas ao mesmo tempo;
- Pode
piorar em 24 a 72 horas;
- Dormência;
- Alteração
da sensibilidade;
-
Sensibilidade ou dor muscular;